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Desvendando o Potencial Internacional da Erva-Mate Brasileira: Uma Análise Estratégica e o Papel Transformador do Programa Vocações Regionais Sustentáveis.

O Brasil é o maior produtor de erva-mate do mundo. O Paraná, maior produtor do Brasil. Ainda assim, as exportações de mate do estado são pouco relevantes, e o Brasil ainda não atingiu mercados estratégicos com relevância. Neste artigo vamos analisar o comércio internacional de mate e como o programa Vocações Regionais Sustentáveis poderá mudar o cenário.

ANALISANDO O FLUXO INTERNACIONAL

Para entendermos o caminho que a erva-mate paranaense percorre no mercado internacional, precisamos analisar os dados a nível dos países exportadores e dos estados brasileiros.

Primeiro de tudo, quem exporta erva-mate no mundo?

Em 2022, nesta ordem, os maiores exportadores são Brasil ($96mi), Argentina ($81mi), Paraguay ($14mi), Alemanha ($3,4 mi) e Síria ($3,3mi). Destes, apenas os três primeiros são produtores de erva-mate, o que já indica que há reexportação do produto (quando um país compra do produtor e exporta para outro). Vale ressaltar que Argentina e Brasil frequentemente alternam de posição no primeiro lugar.

 

E quem importa o produto?

Os maiores compradores são Uruguai ($65mi), Síria ($36mi), Argentina ($25mi), Chile ($15mi), Espanha ($7mi), Alemanha ($5,5mi) e Estados Unidos ($5mi), seguidos por diversos países como Polônia, França, Países Baixos, Turquia, Canadá, Líbano e Arábia Saudita. Nesta lista, vemos a presença de diversos mercados consumidores do produto, mas também de alguns países que atuam como “intermediários”.

O Uruguai é o primeiro país que chama atenção: importa uma grande quantidade e não aparece na lista de exportadores, ou seja, é tudo para consumo interno. Toda a erva consumida no país vem do Brasil.

Já a Argentina chama atenção por outro motivo: exporta muito e importa muito. Mesmo sendo o maior produtor de erva-mate do mundo, o país importa produto do Brasil (70%) e do Paraguai (30%). Além de apresentar um consumo interno substancial, a Argentina desempenha um papel exclusivo como fornecedora à Síria, o principal mercado consumidor fora da América do Sul. Essa dinâmica tem raízes na imigração síria para a Argentina durante o século XIX, que introduziu o hábito do consumo de mate no país árabe, dando origem a uma tradição que perdura até os dias atuais. O Chile também é um mercado abastecido pela Argentina, que fornece 77% da erva consumida no país. Turquia, Espanha, França e Estados Unidos são outros mercados do mate Argentino, que se consolidou como referência internacional do produto. Dessa forma, apesar de ser a maior produtora, a Argentina atua como intermediária, incorporando produto brasileiro e chileno nas suas exportações.

A Síria também atua como intermediária, embora não produza erva-mate, sendo via de acesso aos Países Baixos, à Arábia Saudita, Líbano, Jordânia e demais países árabes.

De forma similar, a Alemanha atua como revendedora, fornecendo para praticamente toda União Europeia, com destaque para Polônia, França e Itália.

A ERVA-MATE BRASILEIRA NO MERCADO INTERNACIONAL

O Brasil é o celeiro do mundo, e isso inclui a erva-mate. A produção anual beira 1 milhão de toneladas, a maior parte para consumo interno. Desse total, aproximadamente 5% são exportados, para o Uruguai (60%) e Argentina (26%). Além disso, somos o principal fornecedor para a Alemanha, e disputamos mercado com os argentinos nos Estados Unidos e na França, embora com volumes pequenos.

A nossa posição se resume a: abastecer o Uruguai e Chile, e suplementar as exportações argentinas. Em comparação, a posição da Argentina é de abastecer o mercado Sírio, e por consequência, boa parte dos países árabes e da Europa. É importante salientar que o potencial para explorar novos mercados e alcançar preços mais elevados é significativamente maior para aqueles que direcionam suas vendas para a Europa e o Oriente Médio. Essa observação sublinha a importância estratégica dessas regiões como alvos de comercialização promissores.

 

A POSIÇÃO DO PARANÁ

Nas estatísticas internacionais, o Brasil figura como segundo maior produtor, atrás da Argentina. Olhando as estatísticas internas do país, contudo, há de se argumentar que o Brasil é, na verdade, o maior produtor, uma vez que há grande distorção em comparação com as plataformas de dados internacionais.

Independentemente disso, o destaque na produção é do Paraná: produzimos 2/3 do mate brasileiro e 85% do mate sombreado. Fornecemos para todo consumo interno do país, seja por meio de produtos industrializados ou como insumo a indústrias de outros estados. Mas quando se trata de exportação, o Rio Grande do Sul desponta, respondendo por 73% da erva-mate exportada. Quase todo consumo do Uruguai vem do estado gaúcho, com uma pequena parcela vinda de Santa Catarina. Quando falamos da Argentina, O Rio Grande do Sul também é o maior fornecedor, mas com participação significativa do Paraná.

Em outras palavras, enquanto o Brasil fornece mate para mercados regionais ou suplementa países que exportam, o Paraná realiza o papel similar, sendo o maior produtor e suplementando a exportação de outros estados que produzem menos.

Contudo, quando analisamos os mercados fora da América do Sul, o Paraná se destaca, dominando a exportação para os Estados Unidos e a Alemanha, mesmo que com representatividade reduzida no todo.

O Paraná também possui destaque na qualidade da sua erva, devido a sua produção majoritariamente sombreada, que é frequentemente utilizada em blends de outros estados e países.

     INSIGHTS ESTRATÉGICOS

  • O Brasil é o maior fornecedor de erva-mate para América do Sul, porém não atinge mercados do hemisfério norte de forma relevante.
  • A Argentina é o maior fornecedor do hemisfério norte, abastecendo a Síria, que abastece Oriente Médio.
  • O Brasil fornece mate para a Alemanha e França, que fornecem para a Europa, indicando um caminho para abertura de mercado, apesar do volume atual ser pequeno.
  • O Paraná é o maior produtor, mas exporta pouco diretamente. A maior parte do produto exportado vai para o Rio Grande do Sul, que fornece para Uruguai e Argentina, que fornece para a Síria.
  • O mate paranaense chega na Síria por vias indiretas e de forma diluída nas misturas que ocorrem ao longo das exportações intermediárias.
  • A qualidade do mate paranaense é mais elevada que a produzida em outros estados e países, e deve ser o destaque na competição internacional.

Em conclusão

Sendo o maior produtor nacional e mundial – e com a erva de maior qualidade – era de se esperar que o Paraná fosse o grande player no comércio exterior. O estado possui acesso facilitado aos países do Mercosul e o 2º maior porto do Brasil. Contudo, os dados revelam que o estado exporta muito pouco de forma direta, não absorvendo o ganho econômico. Isso se deve à consolidação dos maiores mercados: o Uruguai possui fortes laços comerciais com o Rio Grande do Sul, que tradicionalmente fornece erva-mate ao país. A Síria, segundo maior mercado, apresenta mesma lógica: fatores históricos explicam a exclusividade do fornecimento com a Argentina. Já a Argentina, apesar de grande produtora, importa erva brasileira para suprir demanda interna e para incorporar em seus blends de exportação, mas não compra exclusivamente do Paraná. Ainda assim, é nosso principal destino, o que acaba por criar uma dependência em termos de formação de preço e estoque.

Em outras palavras, os maiores mercados estão saturados e com grande barreira de entrada. Resta ao Paraná desbravar novos caminhos, e é isso que o programa Vocações Regionais Sustentáveis irá promover.

 

COMO O VOCAÇÕES REGIONAIS SUSTENTÁVEIS (VRS) VAI ALAVANCAR O ACESSO A NOVOS MERCADOS

Durante 2022 e 2023, a Invest Paraná aplicou o programa Vocações Regionais Sustentáveis (VRS) na região do centro-sul do estado, que responde por 85% da produção de erva-mate. Foram realizados estudos, pesquisa de campo e duas oficinas com produtores, ervateiros e poder público, para entender a produção de mate no estado e desenhar uma estratégia que impulsione a cadeia de valor. O resultado disso foi um Plano de Ação – com um eixo exclusivo de abertura de mercado.

Nesse eixo, o VRS irá realizar uma série de ações para alavancar o mate do Paraná no mercado externo, tendo em vista a estrutura interna e a dinâmica do comércio exterior analisando neste artigo.

Primeiro, vamos estudar a fundo mercados selecionados para criar uma estratégia de exportação. É necessário levantar o nível de consumo, o tipo do produto desejado, os canais de comércio, as exigências de importação e comercialização. Em seguida, criaremos grupos com empresários interessados em exportar para esses mercados, com o intuito de aplicar estratégias em conjunto.

Apoiar diretamente quem quer exportar é um caminho, mas também é necessário criar oportunidades para futuros exportadores. Para isso, precisamos desenvolver uma estratégia para posicionar o mate do Paraná no mercado externo, levando em conta o tipo de competição que acontece na estrutura de comercialização atual. Desenvolver uma identidade de marketing para o mate paranaense é, então, essencial. Essa marca deverá ser um distintivo que comunique ao consumidor que o produto vem do Paraná, levando consigo as mensagens de maior qualidade, sustentabilidade e pureza que o nosso mate possuir.

Além da atuação frente aos mercados, também é necessário elevar o nível do produto paranaense. Para isso, vamos estruturar caminhos para a rastreabilidade e certificações de qualidade, orgânicos, origem e outros. Essa estratégia é essencial para acessar novos mercados no hemisfério norte, onde a busca por produtos com diferenciais de sustentabilidade e responsabilidade são bem valorizados.

 

CONCLUINDO

Diante da análise detalhada do comércio internacional de erva-mate, fica evidente que o Brasil, em especial o Paraná, possui um potencial significativo para expandir suas exportações e conquistar novos mercados. A consolidação do programa Vocações Regionais Sustentáveis (VRS) apresenta-se como uma oportunidade estratégica para alavancar a presença do mate paranaense nos cenários globais.

Ao focar na abertura de mercados, criação de identidade de marketing, e elevação da qualidade do produto, o VRS busca não apenas impulsionar a economia local, mas também posicionar o Paraná como um player relevante no comércio exterior de erva-mate. Com um olhar voltado para a sustentabilidade, certificações de qualidade e diferenciação de produtos, o estado pode superar as barreiras existentes nos mercados já consolidados, explorando novas oportunidades nos hemisférios norte e sul.

O futuro do comércio internacional de erva-mate parece promissor, impulsionado por estratégias inovadoras e sustentáveis que visam não apenas atender à demanda global, mas também destacar a excelência do produto paranaense no cenário mundial.

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